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segunda-feira, 23 de abril de 2018

Vou ficar mais um pouquinho...


...para ver se eu aprendo alguma coisa nessa parte do caminho

Às vezes a vida me assusta. E me assusta porque eu começo a divagar sobre como será o meu futuro e tudo isso me dá um medo imenso. Será que vou ser uma boa profissional? Será que eu vou conhecer alguém e me casar? Será que vou saber sobre o que vai ser o meu livro? Será que vou finalmente decidir se quero ou não ter filhos? São tantas dúvidas, tantas questões, tantas perguntas sem respostas que eu fico zonza de tanto pensar, pensar e não chegar em conclusão nenhuma.

Ontem assistindo o episódio de Friends em que a Rachel faz 30 anos me identifiquei tanto com as dúvidas existenciais dela que teve uma hora em que precisei pausar e dar uma respirada. Se me senti tentada a fazer um plano de como quero que sejam os próximos 5 anos da minha vida? Fiquei, mas dei um segurada na emoção. Até porque se tem uma coisa que aprendi nessa vida é que não dá para fazer planos envolvendo duas ou mais pessoas quando essas mesmas pessoas não estão de acordo em fazer parte dos seus planos. Então, qual a lógica de dizer que vou me casar aos 30 se eu sequer sei com quem???

Partindo disso eu comecei a pensar nas expectativas da sociedade para a vida das mulheres. Espera-se que encontremos alguém com quem passar o resto da vida, tenhamos filhos e que conciliemos tudo com uma carreira de sucesso. Eu me surpreendi porque tirando a expectativa para a vida profissional, o padrão ainda é tão século XIX. Só que as mulheres estão subvertendo esse padrão há séculos. E um bom exemplo é uma das minhas avós: enquanto uma casou, teve 12 filhos e se manteve no mesmo casamento até a morte, a outra teve uma história bem diferente.

Minha avó Mirtes era filha de imigrantes italianos que esperavam que as três filhas mantivessem os costumes se casando dentro da colônia. Como ela conheceu um brasileiro e quis arriscar a vida com ele, foi literalmente expulsa de casa e da família. O brasileiro, meu avô, não quis casar de papel passado e, alguns filhos depois, cada um resolveu seguir seu rumo. Meu pai sempre achou horrível não ter crescido com a mãe, já que minha avó ficou apenas com as filhas por não ter apoio de ninguém para criá-las. Ela tentou a sorte no amor romântico em alguns outros relacionamentos, mas nenhum deu certo. Hoje minha avó envelhece sozinha, apenas com os filhos e os netos, mas sem aquele que deveria ser o homem que estaria ao seu lado na velhice.

Eu sempre senti uma pontada de orgulho por ter a tal ascendência italiana, mas quando conheci a história da minha avó esse orgulho foi embora. Hoje eu me sinto orgulhosa pela forma que ela encontrou para resistir, que foi se recusando a repassar o sobrenome italiano para os filhos. Acho essa atitude tão simbólica e forte. Não sei se no lugar da minha avó eu teria forças para fazer o mesmo.

Por isso percebo cada vez mais que esses padrões impostos já não nos servem faz tempo. Não serviram para a minha avó e não servem pra mim. Por que, então, eles continuam a ser tão presentes? Eu realmente não sei e essa é mais uma pergunta que ficará sem resposta.

Mas uma coisa se encaixou bem hoje. Esse texto, que começou a ser escrito lá pelas 11h da manhã e foi finalizado depois das 22h, esse texto atravessou praticamente um dia inteiro comigo. E não foi um dia qualquer, mas um dia em que muitas coisas aconteceram, aos pouquinhos, mas aconteceram. Uma dessas coisas foi o texto da Milly Lacombe sobre felicidade e sobre confiar na incerteza, que acabou brotando na minha timeline para acalentar meu coração e me fazer perceber que tudo bem não ter o futuro todo desenhado nas mãos.

A incerteza está aí, as perguntas sem respostas também e isso faz parte da vida. Por isso eu só quero me demorar mais onde estou agora, nesse espaço que é assustador e reconfortante, que é calma, mas que também sabe ser agitação. Quero ficar aqui mais um pouquinho e prolongar ao meu modo isso tudo que é tão efêmero.

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