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Reprodução/Pexels |
Ou aquele que eu queria enviar para todos os amigos do Brasil
Hoje eu acordei e pensei sobre como poderia
definir o quão impactante foi ter esses meus novos amigos – Karen, Mari e Tarciso – na
minha vida desde que cheguei aqui nessa cidade que sabe ser amor e também sabe
ser vilã.
“Melhor squad da vida”, eu pensei, como se tivesse que criar
uma legenda para uma foto nossa. Mas a verdade é que eles se tornaram bem mais
que isso.
Uma vez, fazendo um trabalho de rádio lá no Brasil com meus
melhores amigos (Fred, Carol Abrantes, Carol Lameirão, Laleska e Paulo – Laura
não tinha chegado ainda, mas entra com certeza no rol de
melhores amigos da vida <3), a gente resolveu fazer um programa sobre
términos. A gente se reuniu, discutiu, brigou, fez roteiros, editou, trilhou e
tudo que o protocolo pede nessas ocasiões. Foi um daqueles trabalhos que deu um
super orgulho de ter feito, só que demorou muito tempo para cair minha ficha de
que eu não tinha entendido completamente. Até que um dia, arrumando as caixas
da mudança antes de vir pra Portugal, achei um dos roteiros: era do episódio
sobre términos amorosos. Eu li e me deparei com a frase “hoje eu vivo outras
formas de amor”, de uma das entrevistadas. Naquela hora, minha vida estava uma bagunça e eu me lembro de
ter pensado “mano, impossível isso que ela está falando”.
Mas aí a vida foi acontecendo. Quando eu estava bem mal,
minha mãe me deu um abraço bem forte e disse pra mim: “filha, isso vai passar”.
Eu chorei muito mais e fiquei pensando: “será que essa é uma dessas outras
formas de amar?” e tentei seguir vivendo.
Depois foi a vez de fazer as malas e desabafar com meu irmão
Robson, que me deu vários conselhos que eu nunca vou conseguir expressar em
palavras o quão curadores eles foram pro meu coração machucado. E eu só sabia
que, a cada dia, eu entendia mais aquela frase que tinha lido no roteiro e que
antes parecia ser tão surreal.
Daí a gente foi pro aeroporto e eu estava com a alma
anestesiada. Eu estava tão ansiosa pra chegar lá e despachar a mala que não
tinha percebido que não veria toda minha família (meus pais, meus irmãos, a tia
Ana, a Bianca) e amigos por seis meses. Eu embarquei com aquele que viria a ser
um dos grandes parceiros dessa nova fase da vida, o Tarciso, e que parecia
entender o que era aquela sensação de não acreditar que a gente estava mesmo
indo pra outro país.
Daí, naturalmente, a Karen e a Mari chegaram nas nossas
vidas. A gente se viu com dilemas parecidos e se tornou uma rede de apoio, uma
verdadeira família aqui nessa cidade com um inverno longo demais.
Mas apesar de todos eles serem maravilhosos e conseguirem
arrancar meus melhores sorrisos, mesmo que muitas vezes sob o forte efeito da
sidra, eu ainda ia dormir com aquela falta que eu sentia no coração de todo
mundo que deixei no Brasil: da família, dos melhores amigos que fiz na faculdade,
dos melhores amigos que me aguentaram no ensino médio (Bruna, Leandro, Fernanda
e Carol), das pessoas maravilhosas que conheci e convivi quando fiz estágio no
Metro Jornal e da garota que não desistiu de mim mesmo depois de eu ter saído
lá da editora (né, Vanuza?). Essa falta avassaladora que é a saudade, essa
palavra tão brasileira e que eu nunca pensei que pudesse ser vivida dessa forma
tão intensa.
Eu só queria viver de lives pra ver essas pessoas queridas,
ouvi-las, conversar com elas. E cada vez eu sentia mais verdade naquelas
palavras que antes me pareceram tão insanas: “hoje eu vivo outras formas de
amor”.
Parece que meu coração duplicou, triplicou de tamanho e que
cada vez tenho mais espaço para colocar pessoas que eu amo. Porque amar é um sentimento
tão multifacetado que a gente se surpreende ao vê-lo em ação.
Hoje eu entendo melhor aquela frase que tanto me confundiu e
sigo aprendendo a retribuir esse sentimento que eu recebo. Não é fácil. Parece
que o coração não segue as leis da física. Eu sei que ele bate aqui com esse
trio maravilhoso, mas sei que ele também bate com as minhas pessoas que estão lá
no Brasil.
Parece que é tanto amor que esse sentimento precisa sair de
mim um pouco pra que o coração tenha espaço pra continuar batendo. E, quando
dou por mim, estou chorando pra aliviar a alma e, assim, ter mais espaço para
seguir amando. Porque o amor se renova e não se esgota. Parece que ele cresce
de novo e de novo, insistentemente, como quando a gente deixa um grão de feijão
cair na terra e, poucos dias depois, começa a ver esse mesmo grão se abrindo e
folhas verdes saindo dele.
Parece que eu vou morrer de saudade e de tanto chorar, me derretendo
de tanto amor. Mas aí eu lembro que a vida passa e que, daqui a poucos meses,
vou estar chorando por não poder mais chegar na casa da Mari e da Karen pra
bater papo, fazer nossos trabalhos e rir de vídeos de pessoas sob efeito da
hipnose. E isso só me faz querer viver ainda mais o momento e, pra isso, eu me
acalmo dizendo: “tá tudo bem, você logo vai voltar e ver sua família e seus
amigos do Brasil. Aproveita cada segundo com esses novos amigos que a vida
colocou no seu caminho”.
Agora eu sei: é uma verdade universalmente conhecida que uma
pessoa, em posse de um coração, é destinada a viver sempre novas formas de amor.