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quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Sobre não saber lidar e a sensação de eterna bagunça

Reprodução: Pexels

Lembro bem da primeira vez em que me dei conta de que os problemas mais banais da minha rotina podiam ser resolvidos com a ajuda de aplicativos e programas. Eu precisava converter um arquivo de pdf para doc e fiquei pasma - sim, essa é a palavra - quando uma colega disse da forma mais desencanada possível "ah, deve ter algum programa que faz isso". Eu, que já me imaginava digitando aquele texto todo no word, senti que meu mundo se expandia um pouco.

Essa sensação de compreensão súbita é coisa de louco, e foi exatamente o que senti. Anos depois, em uma das aulas da faculdade, eu lembro de sentir algo parecido quando uma professora disse que estava experimentando o Periscope e contando como o Snapchat estava ampliando as formas de comunicação possíveis. Eu fiquei meio "tá bom" já que eu me recusava a experimentar coisas novas e até me orgulhava desse traço da minha personalidade.

Não muito tempo depois eu me toquei do quão grande era o medo que eu sentia de mudar e consegui lidar com isso baixando o Snapchat e começando a usar o Twitter com mais frequência. Foi nessa época que eu decidi dar uma chance ao Evernote para ajudar a organizar minha vida.

Acredito que essas experiências de quase epifania com os aplicativos, programas e redes sociais me fizeram creditar a eles um certo poder que, na verdade, eles não têm. Eu achava que eles resolveriam meus problemas - e em certo ponto, isso é verdade. Mas a partir disso concluir que eu organizaria e controlaria minha vida, sendo mais produtiva, feliz, realizada etc etc, foi bastante precipitado da minha parte justamente porque eu desconsiderei um dos fatores mais importantes para isso tudo dar certo: eu mesma.

Eu preciso ser clara e sincera comigo mesma: por mais que eu tenha me tornado mais aberta ao novo, em termos tecnológicos, não significa que isso tenha me ajudado a lidar com a sensação de eterna bagunça que eu sinto. O problema está no fato dos aplicativos, programas e redes sociais terem contribuído para aumentar essa sensação. Afinal, eu uso tanta coisa ao mesmo tempo que parece que a minha vida está diluída nas redes e isso é horrível.

Antes de me encantar com as redes sociais e enxergar nelas um apoio, eu usava diários e agendas. Não posso negar como é bom e prazeroso fazer um momento remember de 2012, por exemplo, dando uma olhada na agenda e ver que as coisas importantes estão todas ali, juntas, de forma sequencial. Mas, por mais que eu tente fazer isso agora, não funciona mais. Eu me pego "me diluindo" por aí e não entendo mais o que tudo isso significa. Onde estão meus pensamentos? Onde deixei minhas impressões sobre meus dias, acontecimentos importantes? Antes eu teria certeza ao dizer "no blog estão os textos mais pessoais, na agenda os compromissos e a rotina". Mas não é mais assim.

E só me dei conta disso quando estava trocando de celular e pensando em dar o antigo para minha irmã. Na hora lembrei que não poderia dar o celular pra ela naquele dia porque minha vida estava toda no bloco de notas. Então comecei a querer juntar minhas coisas em um único lugar até que, de repente, me dei conta de que sempre faço isso. A diferença é que antes eu separava as folhas, os cartões, post its e reservava um tempo para transcrevê-los e deixá-los em um canto só. Mas agora tudo isso ganhou uma versão tecnológica e, a cada aplicativo que eu descubro, os espaços que eu preciso juntar se tornam mais numerosos.

As vezes sinto que tudo seria mais fácil se eu me decidisse logo por uma coisa só e fosse mais constante. Mas ainda me apego a ideia de que esse é um dos meus traços de personalidade com os quais não consigo lidar

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