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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Poema matinal e fragmentado



Orientada por uma amiga, 
Luíza trocou cerveja por café
"É melhor pra você parar de pé"
e decidiu ir levando a vida

A primeira sensação foi amarga
Havia se esquecido de adoçar
"Já faz tempo, como ia lembrar?"
Virou o copo todo e deu descarga

Tentou outra vez na manhã seguinte, 
E não aguentou tomar nem com leite
"Mais que bebiba ruim do cacete"
Só foi terminar lá pelas 11:20

No terceiro dia foi menos pior
Tinha a reunião do testamento
"Vou acabar de vez com esse tormento"
E bebeu tudo num gole só

Mas à noite não se conteve
E pegou a cerveja na geladeira
"Essa vida só pode ser brincadeira"
Tirou a aliança e jogou no tapete

De madrugada, ela não aguentou
E teve que tomar remédio pra dormir
"Por que é tão breve o existir?"
Deitou, dormiu e também não acordou

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Quando o livro, e não você, dita o tempo

Sabe quando você quer muito ler um livro, mas algo dentro de você impede que a leitura aconteça? Não estou falando de descobrir que a leitura "flui mal" enquanto se lê, mas sim daqueles casos em que você ainda não leu nenhuma página e só tem apenas uma ideia superficial do tema e do que pode encontrar.

Nesses casos, o ato de de começar a leitura é procrastinado ad infinitum... até que, por motivos de forças maiores, você finalmente abre o livro na primeira página e começa aquilo que, bem mais que o ato de ler em si, é um ato de coragem e que só prova o quão destemida você é. Se reconheceu? Pois é, há livros que são verdadeiros desafios.

Esse acontecimento é comum na minha vida quando me deparo com alguns títulos que, por mais que eu queira, eu não consigo ler - embora eu tenha folheado todos à exaustão.

E quando eu consigo romper essa estagnação e começar a leitura, saborear a aventura de mergulhar na história e finalizar esse processo com êxito, a sensação posterior é a de nostalgia misturada com um "por que demorei tanto para ler esse livro???". No entanto, esse processo que vai desde começar a ler até o término da leitura nunca é rápido como costuma ser com outros livros.

capa do livro K., de Bernardo Kucinski
Um dos últimos livros que me fez vencer a estagnação foi K. - Relato de uma busca, do Bernardo Kucinski. Com menos de 200 páginas, esse era "o tipo de livro" que eu leria rapidamente - se apenas a quantidade de páginas fosse levada em consideração. Entretanto, K. não é apenas um livro onde você simplesmente vira a página e continua seguindo a vida. Também não é aquele tipo de livro que você "adianta a leitura" entre malabarismos no transporte público. K. está mais para aquele tipo de livro que fica mais fechado do que aberto na sua mão - reforço: na sua mão.


Com ele, você precisa fazer pausas e refletir - não a cada capítulo apenas, mas, geralmente, a cada parágrafo ou frase. K. é um soco no estômago e quando um livro te acerta assim, minha amiga, é ele quem dita o tempo.


Clique aqui para acessar o PDF
Minha última leitura foi resultado de um trabalho para a faculdade, feito a duras penas justamente porque se baseava em um livro que praticamente não podia ser apressado: Luta, substantivo feminino.

Esse livro é feito de capítulos que são histórias individuais, digamos. Assim como As boas mulheres da China, que reúne diferentes relatos para montar um panorama da época, Luta, substantivo feminino faz isso, mas sem aquele capítulo da conclusão. A conclusão é você quem faz, nas suas reflexões. Por isso, ir de uma história para a outra é mais que um ato de desafio a si mesma, é uma verdadeira rebeldia. Para mim, é difícil ser rebelde, embora seja preciso.

Como leitora, já passei do nível em que me cobrava para ler x livros por mês simplesmente porque precisava ler x páginas nesse intervalo de tempo.

Hoje percebo que fazer esse tipo de cobrança a si mesma é estabelecer uma relação unilateral com a leitura, como se tivéssemos total controle do desconhecido. 

Os livros estão aí para falar, através da palavra escrita, para transmitir uma história que, não raras vezes, exigem mais de quem as lê do que apenas o ato de leitura em si. Estranho? Pode parecer, mas não é.

Livros fazem mais do que guardar informações: eles carregam histórias, sejam elas reais ou ficcionais. E por mais que muita coisa nesse mundo pós-moderno seja quantificável, o que acontece quando entramos em contato com essas histórias definitivamente não é.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Desabafo

Na boa, gata. Melhor ficar na sua.
Ela é horrível. E tem dias que nasce em mim um grito que vem tão de dentro, que tudo o que eu penso é em como eu vou parecer louca quando eu explodir gritando: AHHHHHH, VOCÊ É HORRÍVEL!!!!

De verdade, ela é horrível. Ela me irrita. Contando todos os problemas e as dores, confiando fácil demais, aceitando conselhos fácil demais, rindo fácil demais. Essa ingenuidade humana nela me irrita, sério.

Ela vem com aquele jeito todo amigável, mas fecha a cara totalmente quando fica brava. E o pior é que ela não fala o que é, o que só aumenta a minha vontade de gritar, de espernear, de xingar e de bater as coisas. Mas eu me controlo.

Ela oferece tudo, tudo ela quer dividir: as comidas, os problemas, as dicas de como prender os cachos. Sério, vou perder a linha com essa garota.

E quando ela se irrita, então? Ela bate as coisas, xinga alto, bate telefone, bate porta, bate pé, taca caneta na mesa. Sério, é o caos. Mas o pior é quando ela digita calmamente depois de ter levado o maior esporro, como se nada tivesse acontecido a ponto de tirar seu eixo da órbita. Nossa, isso me tira toda a paciência! E essa calma externa que você pensa que é dela, não é dela coisa nenhuma. A espertinha reserva esse estereótipo de inabalável pra plateia, pra quando ela tá em público, porque quando ela tá sozinha, ela é outra. Eu juro, nunca vi tanta dissimulação em um só ser humano na minha vida. NUNCA!

Eu já disse que ela é horrível? Fala uma coisa em um minuto, no outro já fala e faz o contrário. Diz que não vai confiar mais, já tá confiando. Diz que tá cansada, que já deu, mas no fim das contas, não tá cansada merda nenhuma. Só tá sendo chata pra caramba.

E o pior é que ela não desgruda de mim. De repente, deu pra querer até me entender, é mole? Tô dizendo, ela é horrível! Não aguento, sério.

Juro que qualquer dia desses vou dizer umas poucas e boas pra ela. Na cara dela. Eu vou. Não acredita? Tô falando que eu vou dizer. Eu vou chegar na frente da merda do espelho e dizer: garota, você é chata pra porra!

domingo, 22 de maio de 2016

E


Eu não sei mais me ser. A sensação é a de que falta algo. Eu, penso comigo, sei o que é que me deixa esse buraco no peito. Mas não pode ser esse algo tão simples e tão estritamente vetado que desnorteia toda uma vida humana. E, ao mesmo tempo em que me agarro à ideia de que a ausência deste simples capricho é o motor desse desaprendimento de viver, receio descobrir em mim outras ausências.

E, mesmo sentada, me remexo numa impaciência de quem espera algo que está para chegar. No entanto, quando penso que esse algo não tem data e nem horário para entrega, me sinto masoquista - como quem sofre voluntariamente um sofrimento que não precisaria existir.

Eu só queria gritar tudo isso, queria poder desabafar esse desejo que sufoco há meses com alguém. Mas, que alguém? Quem seria digno de carregar esse fardo com discrição? Não há ninguém capacitado para o cargo de confidente de um segredo camuflado apenas de intenções.

Se eu quero? A resposta é sim e não. Se quero contar, se quero tentar, se quero arriscar, se quero ousar, amar, cantar, aprender, viver? A resposta para cada uma das perguntas é, ao mesmo tempo, sim  e não. A resposta é a minha indecisão. E o que aprendi nesses últimos anos é que minha indecisão serve apenas para me impossibilitar de avançar, retroceder ou andar em qualquer direção que seja.

É essa sensação de peso dentro de mim que me agita, me desnorteia, me deixa apreensiva e nervosa. Estou paralisada e, nessa não-ação eu sinto tudo tão intensamente que o mundo parece me pregar peças.

O que eu faço? Não posso esperar uma resposta se eu não tenho a quem perguntar. E se eu mesma me responder? O que eu responderia a alguém nessa situação? É difícil pensar e formular respostas com esse peso dentro, com essa sensação que parece a infelicidade chegando. Certamente, eu me desencorajaria. Mas aonde arranjar força? Força para agir, apenas?

Me sinto no limbo. Estou incapacitada de sair de onde estou. Será que vou conseguir aguentar firme enquanto essa tempestade interior se exterioriza e passa por mim? Será que eu vou querer ir contra algo que é fruto das minhas próprias ideias? Infelizmente não me conheço o suficiente para responder a isso.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Intenção


Não posso comigo quando você está
E, ao mesmo tempo, eu quero e posso
E a menor possibilidade de algo nosso
É tão real que eu a quero prolongar

Mas a realidade é gerada pela imaginação
E somente uma das partes a concebe
E a nina, e a aconchega e a percebe
O suficiente para essa encenação

E no vacilo escasso de um momento
Eu ardo, eu queimo, eu tento
Na esperança fruto de uma ideia à toa

E essa sugestão que é ré e feto
Eu sufoco, eu afogo, eu veto
Mas a carrego comigo, da popa à proa

domingo, 27 de março de 2016

Como fazer uma revista literária com muito sacrifício: o Guia Prático

Quando a ânsia é de longa data

Aqui se fala em revista na plataforma digital e não impressa
Juro que esse post foi escrito pra lá de meia noite do dia 27. Juro juradinho.

Fazer uma revista literária é perfeitamente possível para você que se propõe esse objetivo. Não vamos entrar nos méritos de qualidade visual, porque isto, meu amigo, fica a gosto do freguês. 

Eu consegui me impor esse desafio e, depois de muita dor, pari meu rebento. Não é o mais lindo do mundo, mas tem seus encantos - claro, puxou a mãe hehehe.

Mas não vamos fugir do foco: o objetivo aqui é disponibilizar um guia prático de como fazer uma revista literária com muito sacrifício. É possível, minha gente. Pode ter muito desespero envolvido, muita palpitação no coração, a situação pode estar longe do tranquilo e do favorável, mas o fim chega e, com ele, aquele resultado do seu árduo esforço.

Entremos neste mundo repleto de possibilidades. Vambora que vamu ao nosso Guia Prático em 13 passos.


1. Tenha a ideia

Não precisa ser necessariamente uma revista literária. Pode ser qualquer segmento do seu interesse que as coisas vão fluir. O importante é ter afinidade com o tema pra, naquela hora que bater a vontade de desistir, você balancear a equação - calma que não tem química, não tem física. O truque é: aposte em algo que realmente goste para ter motivação.

2. Idealize

Definido o tema, pode soltar a imaginação. Pense no que você quer: uma revista de 50 páginas, um jornal de 8, não tem tempo ruim. Pense nas seções, no que você quer que as pessoas vejam ali e anote isso em algum canto - word, caderninho, Evernote etc

3. Planeje

Depois de anotar as ideias todas, planeje com calma em como transformar esses ímpetos em realidade. Você vai ter que ir pra algum canto? Vai ter que falar com pessoas? Vai ter que acompanhar notícias sobre x assunto? Então, organize-se para dar conta disso.

4. Disperse-se

Depois de dourar seu cérebro no azeite, espere a afobação passar. Sinceramente, você pode achar que tudo está muito além de qualquer possibilidade de realização e começar a se arrepender de tudo. Essa é a hora de pegar aquela série ou aquela música, assistir/ouvir e dar aquela dispersada. Se ajudar, finja que não é com você essa pressão toda.

5. Leve a sério e programe as matérias

Depois desse período de férias, recobre o compromisso e volte ao seu cronograma. Você precisará pensar o prazo de cada matéria/texto para não deixar muita coisa 'aglomerar'. Pense em datas e etapas de execução - ex: pesquisa, entrevista, imagens/fotos, etc.

6. Desespere-se tentando escrever com decência

Com o cronograma em execução, você pode chorar um 'tiquito' por achar que seu texto é uma merda. E, talvez, nessa primeira edição, ele seja mesmo. Não encasquete com isso, bola pra frente. Pense no futuro e nos louros da glória: daqui a alguns anos, tipo na 83ª edição, você pode olhar para essa primeira edição e rir de si mesmo e das coisas que escreveu. Recordar, como dizem, é viver e rir faz bem.

7. Encontre colaboradores

Agora, dê-se conta de que, dependendo do tamanho do seu projeto, o melhor é unir forças. Encontre pessoas de sua confiança que topem tocar o projeto com você e não tenha receio de dividir o fardo.

8. Tenha pequenos ataques do coração quando alguns deles declinarem

Quando aquelas pessoas com as quais você contava como certas disserem 'não posso' ou 'eu sei que topei, mas não consigo cumprir com essa data', tá liberado ter pequenos ataques do coração. Você pode quase infartar, mas se lembre daqueles que disseram 'sim' e siga em frente. Ah, e se lembre da segunda edição: pode ser que nessa as pessoas que declinaram topem.

9. Lembre-se dos prazos - e chore

Quando as pessoas que disserem 'sim, eu quero participar' te pedirem um prazo maior, fique de boa. Chore de indecisão, mas supere. Vai dar certo, vai sim. Pense pela perspectiva de a vida ter dado a você um tempo extra, então aproveite pra melhorar aquelas coisas que ficaram bem ~mais ou menos~.

10. Repense a periodicidade

E depois de refazer os prazos, pense um intervalo decente que possibilite a você mais comodidade para enquadrar o projeto na sua rotina e conseguir viver com decência, dignidade e o mínimo de protagonismo no seu rol de amigos.


11. Fique doente do dia de cobrir o evento - e chore mais ainda

Imprevistos surgirão, mas lide com eles. Lembra que você repensou a periodicidade? Então, sossegue, você tem tempo. O choro tá liberado pelas pegadinhas que a vida prega, mas relaxe e leve na boa.

12. Admire a obra finalizada

Depois dos altos e baixos, depois de superar barreiras que você julgava insuperáveis, dê aquele sorriso bobo. Tá liberado ficar uns 30 ou 40 minutos folheando a edição que você conhece de cor e salteado. Ninguém vai julgar você.

13. Compartilhe com o mundo

Agora que você deu aquela olhada terapêutica, é hora de compartilhar seu feito. Traduza pra todos os idiomas possíveis e compartilhe em fóruns - ou apenas chame sua mãe e mostre pra ela. Compartilhe com quem você quer que saiba dos seus empreendimentos e partiu descansar. Recarregue suas energias para a segunda edição.

***

Esse é um texto que eu gostaria de ter encontrado na internet antes de começar a minha empreitada para viabilizar a primeira edição literária da Revista Por Dentro. Parido o filho, ficam as orientações para quem quiser se aventurar por esse caminho.

Mas não pense que esse texto é inútil. As chances de eu mesma voltar aqui pra lembrar de algumas dicas é grande. Tendo, por fim, um leitor como certo, garante-se a função prática desse post. Amém.

sábado, 26 de março de 2016

Pequenos causos dos dias passados

Muito café coado nesse tempo de ausência

Tanta coisa aconteceu desde o último post - inclusive o rascunho de alguns textos com pretensão de serem publicados aqui. E, nesse meio tempo, eu baixei a bola e, mais uma vez, releguei o blog ao patamar de 'bloguinho das coisinhas diárias'.

Pois é, ele será apenas isso. Um lugar de desabafos e experimentações ~compartilháveis~. Quanto aos devaneios mais sigilosos que aspiram à notoriedade (oi??) da internet, estes continuarão na minha mente e naquele cantinho que eu só eu sei onde é e que não almejo compartilhar com o mundo, brigada.

Na verdade, esse post não pretende instigar teorias conspiratórias, Longe disso. Ele é apenas uma tentativa de organizar os anseios. Os meus, óbvio.

A verdade é que eu tenho feito coisas - bastante coisas, até -, mas não posso ficar quieta porque me parece que a vida está vaga.

Sim, eu não tenho postado, mas tenho feito coisas do tipo:

- Gravar vídeos desfocados;
- Tentar registrar minimamente as manifestações políticas ao meu redor;
- Me expressar diante da câmera do celular dizendo algo intelectualmente relevante;
- Planejar, escrever, editar e diagramar uma revista literária;
- Ir às aulas e fazer grande parte dos meus trabalhos feat apresentações em dia;
- Ler (até que pra fevereiro e março eu li relativamente bem mais do que nos últimos anos);
- Atualizar um site com uma frequência razoável, embora questionável;
- Ir à festas de 18 anos;
- Deixar de assistir séries de forma involuntária.

Este, claro, é um resumo bem por cima, mas que caracteriza bem meus últimos meses.

Fora isso, levei aquela rasteira da internet quando, há poucos dias atrás, notei que um ser humano havia me mandado uma mensagem em dezembro do ano passado dizendo que havia gostado muito do meu blog e que precisava falar comigo.

Me sentindo o pior dos seres humanos pela demora em notar o e-mail, eu abri e mensagem e a li. O conteúdo, para meu desprazer, de nada destoava de várias mensagens que a mesma pessoa havia enviado para muitos outros blogs - inclusive com os mesmos elogios vazios. Um spamzinho tão comum nos dias atuais. Normal da vida.

Depois desse leve choque de realidade, resignei-me de vez ao meu lugar na blogosfera. Sem aspirações ou pretensões. Bora tocar o barco com um post de cada vez.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Me desculpem, eu estou julgando

Foto para provar que: 1. Não faço a unha e 2. Encasqueto com foto alheia quando as minha próprias têm problemas
Eu prometi para mim mesma - e essas são as primeiras promessas que eu costumo quebrar. Será que alguém de psico me explica? - que manteria uma rotina "de blogueira": postaria com frequência e responderia aos comentários. Mas eu fiz isso? Não, eu não fiz.

Como lidar? São quantos comentários? Uns 5, no máximo e chutando alto. Mas parece que eu tenho um problema sério com o tempo. Ele passa e eu penso: sério que postei isso há mais de x dias??? Não creio. Enfim, tenho respondido aos comentários mentalmente porque é assim que eu sou. Eu respondo pra mim mesma e esqueço que alguém espera resposta. Nessas horas vocês devem se perguntar: por que Jornalismo, criatura??? (Não vou responder isso hoje porque esse post só vai existir se for estilo fluxo do pensamento, já saquei isso).

Eu vim postar esse texto estranho porque quero espantar as moscas, então quando comecei a escrever o post me dei conta de que estou julgando e-x-t-r-e-m-a-m-e-n-t-e as fotos alheias que encontro pelas redes sociais. Depois das aulas de fotografia que tive, me pego pensando: nossa, como essa foto tá borrada, mal enquadrada, escura etc. Parece uma neura, parece que desenvolvi uma espécie de TOC. E olha quem julga: a garota que não sabe focar. pausa para rir alto.

Gente, sou a pior pessoa pra julgar qualidade de foto alheia. Meu foco é estrábico, eu sou muito míope, sério. E por que isso? Pra que isso?

Não sei. Eu não me entendo, confesso. Eu olho fotos borradas e começo a divagar: nossa, será que ele não quis congelar o movimento?, será que tava escuro?, ou foi do celular e borrou? Aff, tô neurótica.

Alguém por favor, me lembre que existe coisa mais relevante que julgar foto alheia. Por que eu não olho as fotos e penso: "Nossa, essa pessoa curtiu o momento e nem se preocupou com pose. Isso é viver"??

Mas quando eu enveredo por esse caminho, parece que eu puxo a cordinha dos pensamentos todos. Será que eu vou terminar o livro do clube até domingo? É melhor eu chegar atrasada no encontro e ir lá na tal feira antes? O que eu levo de lanche, Meu Deus? Por que pensou tantas perguntas e não deixo espaço pra algumas respostas? Por que penso tantos "por quês"???

Talvez essas sejam as dúvidas existenciais que couberam a mim.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Das dificuldades que tenho em entender sensações


Um defeito na personalidade: sou demasiadamente realista. Mas - porque aqui me cabe uma explicação que me salve - não fui sempre assim.

Me deixem! Só quero escrever sobre nada. Apenas senti as coisas de um jeito que sempre permeia minhas escritas aqui: um jeito analítico que me arrepia o corpo como numa espécie de deslumbramento. O óbvio passou diante dos meus olhos e eu o percebi. Os sentidos ficaram tão aguçados e eu simplesmente perdi a prática de esvaziar sensações em um post.

O óbvio passou por mim e me deslumbrou. Apesar de realista, cultivo o hábito de andar pelas ruas com devaneios na cabeça e chão sob os pés. 

O que há de errado? Novidade alguma há em constatar que as versões de mim mesma não se complementam, que são folhas avulsas voando de acordo com a direção do vento.

O horóscopo chinês diz que a água permeia minha personalidade e eu acreditei - não antes, claro, de juntar n fatores que o comprovassem. 

Em qual esquina eu me perdi de mim? Procurei andar as linhas retas das avenidas e ruas que se ligam perpendicular e paralelamente, mas a arquitetura da minha vida tomou outras direções que não mais consigo racionalizar.

Mas há a água, não posso esquecer. 

Heráclito! Nos meus estudos, sempre preferi Parmênides, mas a vida, essa debochada, me provou a verdade do rio. 

Dialeticamente, gostaria de ver a antítese do que eu fui antes e confiar numa síntese que, de certa forma, reunisse resquícios de quem sou e de quem fui. Pena minha vida ser lógica apenas naquilo que consigo controlar enquanto não me perco imaginando ruas pelas quais gostaria de ter vagado.